Vivemos tempos difíceis e incertos frente à pandemia de coronavírus, que exige de nós muitas mudanças. Por exemplo, novas jornadas de trabalho, isolamento social, adiar compromissos, aumentar os cuidados com higiene pessoal e limpeza dos ambientes e, especialmente, atitudes e posturas responsáveis para evitar o pânico ou aumentar estados ansiosos. O confinamento ou isolamento social tornou-se uma triste realidade em todo território nacional. Visando achatar a curva do vírus, o Estado brasileiro através dos municípios e estados determinou que os cidadãos deveriam ficar em suas casas até que o poder público providenciasse condições de atendimento àqueles que contraíssem o COVID -19.
A questão é que isso já dura bastante dias, e segundo alguns deve perdurar ainda mais. O problema é que o isolamento tem produzido inúmeros males, que vai desde a quebra da economia ao adoecimento emocional de boa parte da população. Senão bastasse isso, o confinamento tem proporcionado aos cristãos alguns sentimentos e atitudes absolutamente antagônicos àquilo que é ensinado pelas Escrituras. Na verdade, digo mais, o denominado isolamento social tem levado aos discípulos de Cristo a desenvolverem pelo menos cinco atitudes equivocadas, senão vejamos:
1- O isolamento social tem esfriado a fé dos cristãos. Particularmente eu tenho visto muitos irmãos fragilizados, desanimados, como tomados de um sentimento de fraqueza e impotência, achando que Deus os abandonou e que em virtude disse resta-lhes somente esperar a morte. (Mt 24:12)
2- O isolamento social vem tornando os cristãos mais egoístas. O ditado popular "farinha pouco meu pirão primeiro." parece que se tornou o mote que tem guiado parte da igreja de Cristo que com medo da crise e do desemprego tornou-se egoísta e ensimesmada. (1 Cor.13:2)
3- O isolamento social tem tornado os cristãos mais solitários e menos solidários. Impressiona a quantidade de pessoas indispostas a ajudar o próximo. Na verdade, muitos com medo do que virá pela frente tornaram-se solitários, individualistas sendo incapazes de dividir o pão, socorrer o mais pobre, simplesmente pelo fato de que o medo o impôs sobre suas vidas a necessidade de construir uma bolha marcada e caracterizada pela preocupação exagerada consigo mesmo.(Lc 12:15))
4- O isolamento social tem tornado os cristãos mais pessimistas. Parece que muitos cristãos deixaram de confiar no Senhor. A impressão que tenho é que os crentes em Jesus estão achando que o vírus é quem reina e governa sobre o mundo e não o Deus de Israel. Nessa perspectiva, muitos tem sido vencidos pelo pessimismo nutrindo na alma sentimentos depressivos os quais tem feito com que muitos adoeçam emocionalmente. (Ec 2:23)
5- O isolamento social tem feito com que cristãos se afastem dos seus pais e familiares. Claro que os mais idosos são mais vulneráveis ao COVID -19, e que devido a isso devem sofrer um um tipo especial de confinamento, contudo, muitos tem exagerado no isolamento, deixando de lado pais e avós, levando-os a um sentimento de solidão. (Pv 23:22)
John Bunyan foi um profícuo pregador do século 17, conhecido por ser o autor do livro cristão mais lido de todos os tempos depois da Bíblia: O peregrino. O que nem todas as pessoas sabem é que Bunyan escreveu essa obra – e diversas outras – durante o período em que estava preso por se recusar a parar de pregar o evangelho. Ele permaneceu 12 anos em isolamento em uma prisão inglesa.
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Além da rara fidelidade de Bunyan à Grande Comissão, chama a atenção o fato de ele não ter se fechado em depressão ou desânimo pelo fato de estar isolado, muito pelo contrário: aquele homem de Deus usou o tempo em que se encontrava distante do convívio humano para produzir algo que, séculos depois, segue edificando a Igreja.
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Assim como Bunyan, temos conhecimento de muitos homens e mulheres de Deus que não deixaram seu isolamento social abatê-los. Pelo contrário, eles viram nesse período de reclusão uma oportunidade de servir a Deus e à Igreja.
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É o caso do apóstolo Paulo, que, mesmo na solidão da prisão, escreveu diversas cartas que hoje compõem o Novo Testamento. Ou o de João, que, exilado na pedregosa ilha de Patmos, recebeu visões extraordinárias, que geraram o Apocalipse. Ou, ainda, o do reformador Martinho Lutero, que, escondido no castelo de Wartburg, usou seu tempo de solidão para traduzir a Bíblia para a linguagem do povo alemão.
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A História mostra que estar isolado não é sinônimo de estar estagnado ou improdutivo. Nada disso: a vida segue, o tempo corre, Deus subsiste soberano e aqueles que se dispõem a permanecer em comunhão e a prestar serviço à obra do Onipotente podem, e devem, usar esse tempo para grandes coisas. O mundo se isolou, em função da pandemia do coronavírus. As pessoas se trancam em casa e evitam o contato social. As igrejas locais se viram diante do dilema: prosseguir com as atividades públicas ou seguir as orientações dos especialistas e contribuir para a quarentena? O fato é que, em menor ou maior grau, todos teremos certo nível de isolamento e solitude enquanto durar a pandemia. A pergunta que surge nessa hora é: como agir? Como enxergar esse afastamento que torna o próximo não tão fisicamente próximo assim?
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Minha sugestão é: faça como Bunyan, Paulo, João e Lutero. Aproveite este tempo para crescer em sua espiritualidade. Se você terá mais tempo livre, dedique-se mais e mais profundamente à leitura das Escrituras e à oração. Deixe um pouco de lado as redes sociais e a Netflix e leia bons livros cristãos (sabe aqueles que você sempre diz que não tem tempo de ler? Pois é, agora tem). Tire períodos devocionais, jejue, tudo isso são disciplinas espirituais que deveriam fazer parte de nossa rotina, mas que a correria dos tempos modernos não nos deixam vivenciar como deveríamos, agora, é uma excelente oportunidade de rever isso.
Amados irmãos, sem sombra de dúvidas vivemos tempos complicados, e como sabemos o COVID - 19 pode ser letal, contudo, como cristãos, precisamos tirar os nossos olhos da "tempestade" que sacode os "nossos barcos" e olhar para Cristo com a certeza de que o Senhor continua reinando e governando sobre todas as coisas, e que me diante a sua Palavra, o mar, o vento e as tempestades se acalmam.